quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Shalom, um presente que a humanidade merece



Por Rabino Avraham Cohen
Revista Morashá

O ano em que estamos prestes a adentrar, 5771 - alude a paz, pois forma o acróstico das palavras Hashaná Tehê Shalom Alenu - Que neste ano haja paz sobre nós.
O sonho de toda a humanidade é viver em paz: sem violência e guerras, sem conflitos e divergências; viver em um mundo onde as opiniões alheias são respeitadas, onde há espaço para que cada ser humano possa se expressar e se sentir à vontade, e onde haja convivência e harmonia com vizinhos e semelhantes.
A Era Messiânica é designada como uma época de suprema felicidade justamente por ser um período em que haverá paz entre as nações e entre todos os seres, inclusive aqueles que hoje são hostis. Assim consta no Livro do Profeta Yeshayahu: "O lobo morará com o cordeiro, o leopardo deitará com o cabrito... A vaca pastará com o urso, seus filhotes deitarão juntos; a criança de colo brincará sobre o buraco da víbora..." em harmonia perfeita e verdadeira.
A palavra Shalom é geralmente traduzida como paz. Refere-se à paz entre duas ou mais entidades, nações ou indivíduos, mas pode também se referir à paz interior de espírito de uma única pessoa. Porém, o significado da palavra Shalom é muito mais amplo e profundo, como demonstra sua própria etimologia, que advém da raiz Shin-Lamed-Mem - Shalem. A palavra Shalem significa ser completo, estar repleto ou pleno.
A raiz etimológica da palavra Shalom ensina que somente uma pessoa completa, íntegra e com boas intenções pode alcançar a verdadeira e duradoura paz. O caminho necessário para se obter a paz, que é uma ascensão espiritual, é lento, mas os benefícios alcançados são, sem dúvida, de valor imensurável.
De acordo com o Maharal de Praga - um dos maiores sábios e Cabalistas, famoso por ter criado o Golem - o significado da paz se espelha nas próprias letras da palavra Shalem . A primeira letra, Shin - - é formada por três ramificações: os extremos - direita e esquerda - e a ramificação do centro, que os une e, por assim dizer, faz reinar a paz entre os opostos. Em seguida, vem a letra Lamed - que tem a cabeça erguida para cima, simbolizando a elevação espiritual que se alcança através de Shalom. E, por último, a letra Mem - - cuja forma se assemelha a de um quadrado fechado, ensinando-nos que aquele que finalmente consegue atingir esse nível, estará protegido pelos quatro cantos, como uma muralha de uma cidade.
No plano pessoal, a paz implica um estado de espírito isento de ira e de desconfiança. Quem está em paz, em geral, está longe de todo e qualquer sentimento negativo. Mesmo quando há conflitos e divergências, o homem da paz se sente tranqüilo. Mas o oposto também é verdadeiro: mesmo quando o mundo está em paz, uma pessoa que vive ressentida, sem Shalom, sente-se vazia, quebrada por dentro, desprovida de Shalem, incompleta.
O mesmo acontece no âmbito orgânico. Quando todos os elementos do sistema humano agem em harmonia, a pessoa tem boa saúde. Porém, quando há algum desequilíbrio - temperatura alta, pouco líquido no corpo, pressão demasiadamente alta ou baixa - o organismo como um todo adoece. Para se viver uma vida saudável, é necessário que haja paz e harmonia entre todos os componentes do corpo. Este é o desejo de cada pessoa para si própria e para os outros.
A saudação judaica "Shalom Alechem" - literalmente, que a paz esteja convosco - também significa, "que tenham boa saúde".
Três níveis de Paz
O Talmud ensina que aquele que sonha com um rio, com uma chaleira ou com um pássaro, será abençoado com paz. Esses três elementos são símbolos da paz porque representam três diferentes níveis de relacionamentos humanos.
Em sua forma mais elementar, a paz significa a ausência de conflito. Esse grau de paz existe quando duas ou mais pessoas mantêm contato apenas para servir seus interesses pessoais. Apesar de se relacionarem entre si, cada um dos participantes nessa relação de paz permanece uma unidade separada e avulsa.
O símbolo para este tipo de paz é um rio. O rio é considerado um meio de comunicação e transporte entre duas ou mais cidades. Representa um estado de intercâmbio que existe entre duas ou mais entidades totalmente separadas, que se conectam apenas em função de suas vantagens mútuas.
Há, entretanto, um segundo grau de paz, simbolizado pela chaleira. Esse tipo de paz está presente quando duas ou mais pessoas se reúnem para alcançar um objetivo comum que nenhuma delas sozinha seria capaz de atingir. Por exemplo, indivíduos se associam para realizar projetos, construir arranha-céus, enquanto que as nações se unem em pactos de defesa mútua. Nesse tipo de relação de paz, se cada participante agisse sozinho, não seria capaz de realizar o objetivo desejado. As metas almejadas só podem ser alcançadas graças ao esforço e à união de todos os participantes. Esse tipo de relacionamento é comparado à chaleira, pois esta foi criada para cozinhar alimentos ao utilizar a água e o fogo, conjuntamente. A água sozinha estragaria a comida, ao passo que o fogo, por si só, a queimaria. Mas graças ao efeito mediador da chaleira, é possível preparar alimentos próprios ao consumo. A chaleira torna assim possível uma paz produtiva entre a água e o fogo.
O terceiro e mais elevado nível de paz é o simbolizado pelo pássaro. Este tem duas habilidades distintas: sobreviver na terra e, ao mesmo tempo, voar pelos céus. Estas habilidades não são aptidões independentes que coexistem, lado a lado. Pelo contrário: são aspectos de um único organismo que opera em ambos os domínios, céus e terra. A maneira pela qual o pássaro caminha sobre a terra é afetada pelo modo como voa.
Ao mesmo tempo, a maneira como voa pelos céus é afetada pelo modo como caminha na terra. O pássaro é, simultaneamente, um ser terrestre e aéreo. Essa criatura representa um tipo de paz em que duas naturezas e duas entidades se fundem em uma única. As duas partes deste tipo de paz não apenas trabalham juntas, como no segundo tipo de paz, mas fundem-se em uma só.
Os três níveis de paz são válidos na relação entre uma pessoa e seus semelhantes. Porém, o terceiro nível é o mais louvável, pois através dele as pessoas se unem, formando um vínculo emocional que transcende a própria razão.

Paz entre opostos
Assim declarou o físico judeu Albert Einstein: "A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos". Em outras palavras, o ser humano tem a obrigação de dar um passo adiante em prol da paz. A verdadeira paz só é alcançada quando há humildade de ambos os lados. O humilde tem o hábito de perdoar, de abrir mão de suas exigências e de ser muito indulgente. Se toda pessoa se comportasse como tal, não há dúvida de que não haveria disputas, conflitos e desentendimentos. Cada pessoa pode valorizar sua individualidade e, ao mesmo tempo, reconhecer e respeitar a existência de seu próximo. Pois a verdadeira paz é mantida não pela força, mas pela concórdia.
Ao final da reza da Amidá, recitada três vezes por dia, consta a famosa frase: "Ossé Shalom Bimromáv, Hu Berachamav, Yaassé Shalom Alenu veal Kol Israel" - "Aquele que faz reinar a paz nas Alturas, com Sua misericórdia, concede a paz sobre nós e sobre todo o Povo de Israel". Nossos Sábios lançam a pergunta: Que tipo de conflito há nas alturas, que se faz necessário que o próprio Todo Poderoso intervenha a fim de fazer reinar a paz? E eles respondem: os Céus são formados pela água e pelo fogo.
A própria palavra em hebraico para "Céus", Shamayim, indica isso. Shamayim é uma fusão de duas outras palavras: Esh - fogo, e Mayim - água. A própria natureza desses dois elementos é contraditória: o fogo e a água não podem conviver juntos. Contudo, o Todo Poderoso decreta que haja paz entre esses dois elementos, a fim de dar existência aos Céus. Esta é a nossa intenção ao dizermos que D'us faz reinar a paz nas Alturas, e, portanto, expressemos nosso desejo que Ele faça o mesmo conosco. Deve-se lembrar, contudo, que a paz só é possível quando se abre espaço para a existência de outros. É por esse motivo que a frase Ossé Shalom Bimromáv é dita apenas no final da Amidá, depois da pessoa recuar três passos. Isto simboliza que para se alcançar a paz, é necessário que o indivíduo abdique de sua posição e regrida um pouco, dando lugar para o seu semelhante.
Freqüentemente, as discussões e os conflitos são conseqüências de diferenças de opiniões e da falta de tolerância com a visão dos nossos semelhantes. O famoso Rebe de Kotsk citava o seguinte ensinamento do Talmud - "Da mesma forma como os rostos das pessoas são diferentes, assim também são os seus pensamentos" - e comentava: Assim como aceitamos com naturalidade a diferença de traços faciais entre as pessoas, também devemos aceitar, com a mesma naturalidade, o fato de duas pessoas não concordarem com a mesma opinião.

A paz versus a verdade
Duas das mais importantes figuras na história do povo de Israel foram Aharon HaCohen e Moshé Rabenu. Estes dois irmãos, que lideraram o Povo Judeu na saída do Egito, servem de exemplo de comportamento para todas as pessoas, em todas as gerações.
A Torá conta que quando Aharon faleceu, todo o Povo de Israel - sem exceção - chorou a sua morte. Por outro lado, quando Moshé Rabenu faleceu, relata a Torá, apenas os homens choraram. Por que a Torá faz questão de frisar a diferença na reação do povo quanto ao falecimento desses dois grandes líderes?
Aaron HaCohen era muito amado por todos, homens e mulheres. O motivo disto, ensina o Talmud, é que ele costumava fazer a paz entre colegas, irmãos, vizinhos, amigos e, sobretudo, entre cônjuges. Quando via duas pessoas se desentendendo, Aharon procurava uma delas e lhe dizia: você não imagina quanto seu colega esta arrependido desta discussão que teve com você; ele espera ansiosamente uma hora propícia para se desculpar e fazer a paz. Logo em seguida, quando se encontrava com a outra pessoa envolvida no conflito, Aharon repetia as mesmas palavras. Deste modo, cada um dos lados refletia sobre o conflito e se arrependia da forma em que havia se comportado. A partir de então, na primeira oportunidade em que se viam, cada um encontrava a coragem para se aproximar, pedir desculpas e fazer as pazes. Assim, este homem virou o símbolo da paz e da concórdia dentro do povo de Israel.
Moshé Rabenu, por sua vez, foi o Mestre, o maior entre todos os profetas, o homem da justiça. Foi ele quem trouxe a Torá ao mundo e que ensinou as suas leis. Ele era, por assim dizer, o homem da verdade.
Quando se trata de respeitar a lei, nem todos ficam contentes e satisfeitos. A lei pode favorecer alguns e prejudicar outros. Seguir as regras pode não ser tão agradável e, muitas vezes, pode causar transtornos. Contudo, em nenhum momento o povo deixou de seguir os ensinamentos de Moshé, nosso Mestre . Todo o povo tinha em relação a ele um grande respeito e muita consideração, mas não se pode afirmar que ele era amado e querido por todos como era seu irmão Aharon.
Ao nos relatar como os dois líderes eram vistos aos olhos do povo de Israel, a Torá objetiva nos ensinar uma grande regra na vida. Ensina a Torá: quando, no futuro, dois líderes surgirem, cada um deles defendendo suas idéias - o primeiro em nome da verdade e o outro em nome da paz - saibam qual dos dois seguir. Não há dúvida de que a verdade, a integridade e a autenticidade são imprescindíveis no judaísmo. Porém, há algo ainda mais importante e muito mais necessário para o bem estar da vida social e religiosa: a paz. Em nome da verdade, pode-se fomentar a destruição e a devastação, que são as antíteses da paz. Mas, quando o objetivo é verdadeiramente a paz, não há lugar para atitudes e atos que levem ao sofrimento e ao aposto da vida. Bem ao contrário: através da paz é muito provável alcançar também a verdade.
Estamos adentrando o ano de 5770 - em hebraico forma o acróstico das palavras Hashaná Tehê Shalom Alenu - Que neste ano haja paz sobre nós. Este é nosso profundo desejo para toda a humanidade e, particularmente, para todo o povo de Israel.


*Rabino Avraham Cohen é Rabino da Sinagoga Beit Yaacov"
 http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=803&p=1

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Estrela Oculta do Sertão

Importante e valioso documentário por título “A Estrela Oculta do Sertão”


Link: Estrela Oculta do Sertão (Documentário)


Foi produzido na região nordeste, cujo destaque encontra-se no enfoque às tradições judaicas presentes nas práticas culturais do povo nordestino.






Protagonizado por Medico paraibano de nome Luciano Oliveira, que por acaso perguntou a uma parenta sobre seus antepassados, obtendo como resposta às indagações provas suficientes, do vínculo com a antiga sefarade, que mudaram sua vida, “A Estrela Oculta do Sertão” afirma a veracidade de muitas histórias familiares espalhadas pelas quebradas do sertão nordestino.

Luciano Oliveira e sua equipe palmilharam diversos estados da região, intuindo comprovar a tese de que a genealogia de muitas famílias nordestinas está indissociavelmente atrelada ao sangue judeu.

Buscando subsídios em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte, o protagonista desvenda antiqüíssimas práticas culturais presentes no cotidiano do povo nordestino, como o costume de não varrer a casa passando lixo pela porta da frente, pois em um passado distante esta, na porta dos antepassados, continha um dos mais sagrados símbolos do judaísmo – A Mezuzá – pequena tabuleta de madeira impecavelmente trabalhada, contendo na parte de fora a letra SHADAI, primeira do Nome do Eterno Todo Poderoso, em hebraico, sendo que dentro contém os salmos, também na língua principal falada pelos judeus.

Com a aculturação e a cristianização, quando da ênfase à efetivação dos cristãos-novos, a Mezuzá foi substituída pela cruz, indispensável em portas espalhadas por toda região.



Costumes presentes no dia-a-dia dos nordestinos, como o hábito de colocar pedras em cruzeiros no meio das estradas, também são esmiuçados no documentário, pois esta é uma das mais importantes manifestações de condolência judaica.

Nathan Wachtel, eminente professor do Collège de France, publicou importante livro, ainda em francês, sobre as tradições nordestinas, provando que as mesmas são eminentemente judaicas. O livro do professor Wachtell intitula-se La Foi Du Souvenir (A fé da lembrança)
Municípios localizados nos ermos distantes do sertão, como o pequeno Venha-Ver (corrutela de “Vir Chaver”, em hebraico, ou seja, “Venha Amigo”, a inquisição não lhe pega por aqui), localizado no alto oeste potiguar, foram visitados por Luciano Oliveira e equipe, cujo destaque encontra-se justamente na comprovação de que os moradores do lugarejo norte-riograndense descendem dos fugitivos da perseguição inquisitorial que se instalou em Pernambuco, na Paraíba e no Rio Grande do Norte após a expulsão dos holandeses.

No estado da Paraíba, há ênfase à visita de Luciano Oliveira e equipe à cidade de Pedra Lavrada. O protagonista é da família Cordeiro desse município, cujas ramificações se espraiam pelo estado do Rio Grande do Norte, chegando ainda a influenciar na denominação toponímica de localidade chamada São José dos Cordeiros.

Sobrenomes comuns às famílias nordestinas são de origem judia, pois quando da grande conversão forçada, no final do século XV, houve pacto entre os judeus para adotarem nomes de plantas, árvores, animais, lugar de origem,etc., objetivando se reconhecerem no futuro.
Oliveira, Cardoso, Fernandes Pimenta, Gurgel, Carneiro, Alencar, Mangueira, Nogueira, Carvalho, Silva, Pereira, etc., são exemplos de sobrenomes com vínculos judaicos, presentes, na região nordeste e outras regiões, bem como países, em listas telefônicas, nomes de ruas, chamadas de salas de aulas e muitos outros.

O documentário “A Estrela Oculta do Sertão” peca em não falar sobre a fase áurea desfrutada pelos judeus quando da dominação holandesa (1630-1654), pois a resposta para a presença dos descendentes desse povo na região nordeste encontra-se justamente na tolerância que os mandatários da Companhia das Índias Ocidentais manifestaram quando da conquista do nordeste brasileiro, pois necessitavam de capital para levar avante a experiência concentrada na exponencial relação com o açúcar nordestino, na época impossibilitado de ser comercializado na Europa pelos holandeses devido rixa com os espanhóis.

A expulsão holandesa do nordeste brasileiro fez com que verdadeira “caça às bruxas” fosse instalada, com a requisição lusitana da presença da Santa Inquisição. A importância da presença judia no nordeste era tão proeminente que a primeira Sinagoga das Américas foi construída no Recife.
Com a celeuma causada devido à saída batava, o rabino da sinagoga pernambucana, de nome Isaac Aboab da Fonseca, conseguiu comprar, através de quotas com os membros da comunidade, um navio no qual rumaram para o norte, tendo chegado à costa nordeste dos atuais EUA, onde ajudam a fundar um núcleo populacional que levaria o nome de Nova Amsterdão, hoje cidade de Nova York. O rabino da sinagoga Novayorkina chama-se Abraão Cardoso, descendente dos judeus pernambucanos que migraram, fugindo das perseguições inquisitoriais.

Grandes personalidades que fazem parte do seleto rol dos estudos judaicos no Brasil e no mundo foram entrevistadas quando da produção de “A Estrela Oculta do Sertão”, a exemplo de Nathan Wachtell, Anita Novinsky, Paulo Valadares, João Medeiros Filho e família, Marcos Filgueira, Odmar Pinheiro Braga, etc.

A Estrela a qual se refere o título do documentário, obviamente, é o hexagrama dos judeus, a Estrela de David, com seis pontas, símbolo contido na bandeira do Estado de Israel, o mesmo que se encontra disfarçada em uma rosa no frontispício do velho casarão construído no amo de 1870, em Pombal (PB), na atual rua Coronel João Leite, propriedade, em um passado não muito distante, dos criptojudeus pombalenses Aarão Ignácio Cardoso D´Arão e sua sobrinha e esposa Facunda Cardoso de Alencar.

O documentário chama a atenção para uma questão delicada que é a situação dos "anussins", os "marranos", convertidos que buscam o regresso, ou seja, os descendentes desses fugitivos que escaparam da região litorânea e buscaram abrigo nos mais longínquos recônditos espalhados nas quebradas do sertão nordestino.

Para quem se interessa pelas questões pertinentes ao nordeste brasileiro, “A Estrela Oculta do Sertão” surgiu como um dos mais importantes documentários sobre a região nordeste, devido elucidar e responder antigas indagações sobre as origens e as práticas culturais da população que aqui habita.
por Jorge Magalhães - Coisas Judaicas - יהודית דברים

Kabbalah do Casamento







Um dos aspectos mais empolgantes do casamento é a descoberta das profundas diferenças entre homens e mulheres, e aprender como eles se complementam.Estas diferenças não são apenas biológicas. Em todo nível do nosso ser – intelectual, emocional, psicológico e espiritual – homens e mulheres parecem ter vindo de diferentes planetas.
Mas, o que nos torna diferentes?

É apenas o condicionamento social que faz de um homem um homem e de uma mulher uma mulher, ou nascemos ambos dessa maneira? A masculinidade é um hormônio, um sentimento, ou a maneira pela qual os homens são educados? As mulheres são treinadas para serem femininas ou elas sabem fazer isso de maneira inata?

A abordagem da Cabalá é tanto singular quanto revolucionária. Afirma que a fonte da identidade macho/fêmea está além da natureza e da criação. É nossa própria alma, Homens e mulheres têm raízes de alma totalmente diferentes, e é por isso que são diferentes.

Em termos cabalistas, a alma dos homens vem do mundo de Divina transcendência; a alma das mulheres vem do mundo de Divina imanência. Transcendência é a qualidade Divina de estar além; imanência é a igualmente qualidade Divina de estar presente. Estes são os aspectos macho e fêmea do Divino, e estão refletidos no homem e na mulher respectivamente aqui no âmbito humano. 

Embora cada indivíduo seja único e nem todos se encaixem em definições simplificadas, num sentido geral há uma clara distinção entre posturas espirituais masculinas e femininas. Suas diversas fontes de alma se traduzem em duas pessoas muito diferentes. Talvez isso possa ser expressado assim:

Os homens são almas mais removidas; são programados para fornecer a direção no relacionamento. As mulheres são almas mais envolvidas; elas têm a capacidade de realização no casamento. Isso se torna claro quando contrastamos e analisamos as respectivas naturezas de homens e mulheres. Existem determinadas situações, nas quais este contraste se torna ainda mais óbvio e exagerado.

Vejamos alguns exemplos: Sobre o casamento, Raquel reclama que Dani não parece tão empolgado. Quando se trata de escolher o cardápio, Dani diz a Raquel que ela pode decidir sozinha – ele realmente não se importa se a salada é servida com molho francês ou italiano. O esquema de cores fica totalmente a cargo dela, ele concordará com qualquer coisa que ela goste, mesmo que seja malva (ele nem sabe bem que cor é esta). 

Raquel se apressa para ver como ficaram os convites, e Dani nem se incomoda de olhar para eles. Quando ela os mostra ao marido, ele nem percebe a marca d'água no papel que mostra seus nomes em caligrafia. Qualquer menção sobre o casamento e ela é dominada pelo entusiasmo, enquanto ele ainda nem comprou um terno.

Dani não pode evitar isso. Não é que ele não esteja empolgado – ele está, à sua maneira. Mas Dani é um homem. Ele está empolgado por se casar, mas para ele casar nada tem a ver com cardápio ou decoração. É um evento – os detalhes não o interessam. Mas para Raquel, cada detalhe do casamento o torna um evento. Em cada detalhe está o selo da sua personalidade. Ela está envolvida. Ele está removido.

Outro exemplo: Adam e Miriam acabaram de assistir a uma palestra de auto-ajuda. O orador falou durante uma hora e meia sugerindo estratégias para melhorar a vida deles. Miriam está inspirada, pronta para começar a implementar grandes mudanças em sua vida. Adam ainda está se perguntando quanto o orador recebe por participante. Quando lhe perguntam o que achou do discurso, ele responde com palavras como "interessante", "bem apresentado", "divertido" – todas avaliações impessoais e distantes. Miriam pode ou não mudar sua vida, mas ela certamente pensou a respeito. Para Adam, as idéias foram boas, mas seria preciso tempo e grande esforço para ele entender que aquelas idéias podem se aplicar também a ele. Adam está removido. Miriam está envolvida.

Yonathan e Tammy estão lendo juntos esse mesmo artigo. Só de olhar para o rosto de Tammy pode-se ver exatamente o que ela está sentindo. Está furiosa. Todas essas generalizações e declarações doces sobre homens e mulheres. Eu não me encaixo nesses estereótipos! Após três parágrafos ela se afasta. "Não consigo ler essa droga", diz ela. Yonathan, não escutando sua explosão nem percebendo sua partida, continua lendo. Seu rosto quase não mostra reação – ele apenas ergue levemente as sobrancelhas. Termina o artigo, nem sequer percebendo que este parágrafo foi escrito sobre ele, e segue adiante para olhar os anúncios, Talvez tenha concordado com o artigo, talvez não. Você teria de perguntar a ele para descobrir.

Yonathan está removido. Tammy está envolvida. Tammy está certa. Não nos encaixamos todos nesses moldes. Na verdade, cada um tem elementos dos dois gêneros – nosso lado masculino e feminino. Mas de maneira geral, há uma atitude feminina e uma masculina. O homem é removido e distante. A mulher é envolvida e presente.

Não há nada de errado com qualquer uma das atitudes. Cada qual tem vantagens e desvantagens. Às vezes é bom ser removido. Quando se trata de ver as coisas em contexto e fazer julgamentos, o distanciamento e a objetividade são essenciais. Você apenas consegue ver as coisas como elas são quando permanece fora delas; se estiver envolvido não pode mais ver o quadro geral. Esta é a força da alma masculina – a distância que proporciona a objetividade.

Porém a objetividade também tem seu lado negativo. Você não chegará a lugar nenhum se permanecer à margem da vida, como um espectador. Estar vivo significa se envolver, e para isso é preciso sair do mundo da teoria e imergir no momento. É aí que entra o elemento feminino. É o seu senso de envolvimento e presença que dá cor e personalidade à vida. É a mulher que torna a vida real e vibrante, que leva as coisas do analítico ao experimental, da teoria à prática.

Síntese do artigo  “ Casamento e Cabalah
Por Yacoov Lieder